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domingo, 11 de novembro de 2012

Perder, Ganhar, Viver


Vi gente chorando na rua, quando o juiz apitou o final do jogo perdido; vi homens e mulheres pisando com ódio os plásticos verde-amarelos que até minutos antes eram sagrados; vi bêbados inconsoláveis que já não sabiam por que não achavam consolo na bebida; vi rapazes e moças festejando a derrota para não deixarem de festejar qualquer coisa, pois seus corações estavam programados para a alegria; vi o técnico incansável e teimoso da Seleção xingado de bandido e queimado vivo sob a aparência de um boneco, enquanto o jogador que errara muitas vezes ao chutar em gol era declarado o último dos traidores da pátria; vi a notícia do suicida do Ceará e dos mortos do coração por motivo do fracasso esportivo; vi a dor dissolvida em uísque escocês da classe média alta e o surdo clamor de desespero dos pequeninos, pela mesma causa; vi o garotão mudar o gênero das palavras, acusando a mina de pé-fria; vi a decepção controlada do presidente, que se preparava, como torcedor número um do país, para viver o seu grande momento de euforia pessoal e nacional, depois de curtir tantas desilusões de governo; vi os candidatos do partido da situação aturdidos por um malogro que lhes roubava um trunfo poderoso para a campanha eleitoral; vi as oposições divididas, unificadas na mesma perplexidade diante da catástrofe que levará talvez o povo a se desencantar de tudo, inclusive das eleições; vi a aflição dos produtores e vendedores de bandeirinhas, flâmuIas e símbolos diversos do esperado e exigido título de campeões do mundo pela quarta vez, e já agora destinados à ironia do lixo; vi a tristeza dos varredores da limpeza pública e dos faxineiros de edifícios, removendo os destroços da esperança; vi tanta coisa, senti tanta coisa nas almas…
 
Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo.
 
Certamente, fizemos tudo para ganhar esta caprichosa Copa do Mundo. Mas será suficiente fazer tudo, e exigir da sorte um resultado infalível? Não é mais sensato atribuir ao acaso, ao imponderável, até mesmo ao absurdo, um poder de transformação das coisas, capaz de anular os cálculos mais científicos? Se a Seleção fosse à Espanha, terra de castelos míticos, apenas para pegar o caneco e trazê-lo na mala, como propriedade exclusiva e inalienável do Brasil, que mérito haveria nisso? Na realidade, nós fomos lá pelo gosto do incerto, do difícil, da fantasia e do risco, e não para recolher um objeto roubado. A verdade é que não voltamos de mãos vazias porque não trouxemos a taça. Trouxemos alguma coisa boa e palpável, conquista do espírito de competição. Suplantamos quatro seleções igualmente ambiciosas e perdemos para a quinta. A Itália não tinha obrigação de perder para o nosso gênio futebolístico. Em peleja de igual para igual, a sorte não nos contemplou. Paciência, não vamos transformar em desastre nacional o que foi apenas uma experiência, como tantas outras, da volubilidade das coisas.
 
Perdendo, após o emocionalismo das lágrimas, readquirimos ou adquirimos, na maioria das cabeças, o senso da moderação, do real contraditório, mas rico de possibilidades, a verdadeira dimensão da vida. Não somos invencíveis. Também não somos uns pobres diabos que jamais atingirão a grandeza, este valor tão relativo, com tendência a evaporar-se. Eu gostaria de passar a mão na cabeça de Telê Santana e de seus jogadores, reservas e reservas de reservas, como Roberto Dinamite, o viajante não utilizado, e dizer-lhes, com esse gesto, o que em palavras seria enfático e meio bobo. Mas o gesto vale por tudo, e bem o compreendemos em sua doçura solidária. Ora, o Telê! Ora, os atletas! Ora, a sorte! A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos.
 
E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?
Por Carlos Drummond de Andrade

domingo, 4 de novembro de 2012

110 anos de Carlos Drummond de Andrade

   Há 110 anos atrás nascia Carlos Drummmond de Andrade, o autor de mais de 60 obras entre elas contos, poesias, crônicas, histórias infantis e artigos.Esse poeta nos deixou uma das mais preciosas pérolas da literatura brasileira, contribuindo de forma ímpar para sua formação.Ele partiu, mas deixou para nós a sua essência cravada em cada um de seus versos.
  Este ano o aniversário de Drummond foi comemorado com o Dia D: Dia de Drummond, que foi celebrado em oito cidades brasileiras: Rio de Janeiro,Belo Horizonte,Brasília, Porto Alegre,Recife, Salvador,Itabira e São Paulo.Houve apresentações como a peça teatral Cartas para Julieta, que aborda o intenso relacionamento com a sua filha.

Nos lembraremos para sempre do nosso cronista que tinha o talento de transformar singelas palavras em arte, como ocorre com o seu mais favorito poema:


No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

De Corpo Inteiro

Sinopse - De Corpo Inteiro - Clarice Lispector

“O que é amor? Qual é a coisa mais importante do mundo? Qual é a coisa mais importante para um indivíduo?”
Essas questões, em si perturbadores e exigentes, são o coração desse livro. Só Clarice Lispector, improvisada em repórter, as ousaria formular como se fossem mais simples e evidentes, as inescapáveis questões a que devem responder os que compões o panteon da inteligência e da sensibilidade brasileira. Perdidas entre tantas outras que reconstroem o percurso existencial e profissional de gente como Chico Buarque, Tom Jobim e Nélida Piñon, elas ferem fundo e desconcertam os entrevistados, fazendo-os deslizar para um universo que, mais do que qualquer outro, pertence a Clarice.

A busca da essência de cada um de nós, para além do brilho do sucesso, pede da entrevistadora a generosidade de expor-se em cada entrevista, perguntando-se tanto quanto pergunta, correndo os mesmos riscos. “Por que você escreve?” “Eu me pergunto por que escrevo?” “Você tem medo?” “Eu tenho medo.” É nesse vaivém de ocultações e desvendamentos que Clarice Lispector oferece ao leitor desse livro um panorama íntimo do que foi a sua geração, seus tormentos, suas glórias e fracassos, sua criatividade transbordante, tudo registrado em música de câmera, em diálogo pausado, impiedoso às vezes e honesto sempre.

Como prêmio nos é dado ainda surpreender Clarice por um ângulo pouco conhecido, o da jornalista, estranha jornalista, terna, perplexa, fascinada pelos mundos que vai abrindo a golpes de despudor, como pode ser perguntar ao ministro do planejamento se ele reza.

Clarice, disso sabem seus leitores, surpreende sempre, sobretudo porque nos confronta a nossos próprios mistérios, abre caixas secretas que carregávamos sem saber. Refaz, assim, mutilações insuspeitadas e nos devolve a nós mesmos, De corpo inteiro.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Clarice Lispector

       Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores(...)
                                                                                                     Pedro Karp Vasquez



“Sou tão misteriosa que não me entendo.”
                                           Clarice Lispector


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Semana de Arte Moderna

A busca por liberdade de expressão foi um dos motivos da iniciativa de promover a Semana de Arte Moderna, que ocorreu em fevereiro de 1922, em São Paulo, que contou com a presença de nomes consagrados do modernismo brasileiro:Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos,Tácito de Almeida, Di Cavalcanti.Seria um movimento de independência artística do Brasil,abrangendo renovação na pintura,escultura,poesia,literatura e musica. Apesar desse movimento ter sido duramente criticado por intelectuais da época,ao longo do tempo ele tem adquirido valor histórico.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Literatura e Meio Ambiente


   A literatura sempre esteve preocupada com o meio ambiente.
   E os poetas viveram em determinada época e em determinado contexto.
   E esse contexto (no qual se inclui o ambiente em que eles estavam inseridos) era retratado em suas obras.
O que contribui para determinação e caracterização do espaço e consequentemente da época retratada.
   Como por exemplo, na literatura informativa do Brasil (1500-1601), onde Pero Vaz de Caminha descreve minuciosamente o Brasil, e deixa transparecer o encanto e o brilho nos seus olhos ao vislumbrar a nossa terra. O Brasil apesar de não conter em si ouro e prata, continha aspectos originais e surpreendentes, como os nativos, que tiveram detalhamento especial por parte de Caminha, andavam nus e dotavam de inocência considerável, e até mesmo o ecossistema que segundo o escrivão possuía águas infinitas e em razão disso, tudo que se plantava se dava.
   O Arcadismo (1768-1839), também dedicou atenção considerável ao meio ambiente, tanto que se afirmou que o Homem só seria feliz se estivesse em contato com a natureza. A composição de Zé Rodrix e Tavito “Casa no Campo” denuncia o desejo atenuado de estar em contato com o meio ambiente preservado.
A natureza brasileira no Romantismo brasileiro (1839-1880) era supervalorizada e idolatrada, e influenciava o estado de espírito do poeta, se a natureza estivesse triste o poeta também estava triste. Merece citação o poema romântico de Gonçalves Dias “Canção do Exílio” onde ele lamenta o fato de não está em seu país: o Brasil, e deseja desfrutar nem que seja pela ultima vez dos primores de sua terra.
   No Realismo/Naturalismo brasileiro (1881-1893) os poetas continuarão a amar a natureza, só que passarão a vêla-la com olhos críticos, porque as coisas passarão a não ser tão perfeitas, por causa do fato que mudará definitivamente o meio ambiente: o nascimento das indústrias. A obra “O Cortiço” de Aluísio Azevedo foi o primeiro romance que retratou aspectos negativos da natureza, essa obra trata do egoísmo humano e das desigualdades sociais, fruto da implantação das indústrias.
   A natureza Brasileira no Modernismo Brasileiro (sec.xx) será retratada em diversas obras, e por diversos poetas, como em: “Os Sertões” de Euclides da Cunha, onde trata da seca e outros fatores do ecossistema do sertão da Bahia, e tem como objetivo principal descrever e detalhar a Guerra de Canudos, este foi o primeiro romance onde se observa a natureza não favorecendo o homem. Podemos também citar a obra “Macunaíma” de Mário de Andrade onde se conta a história do primeiro anti-herói retratado nos livros, Macunaíma é um índio que vive em contato com a natureza, que decide ir para a cidade grande a procura de um talismã, chegando á cidade se decepciona e se horroriza ao ter um primeiro contato com a poluição.  “A Bagaceira” de José Américo de Almeida trata sobre a seca do Nordeste. E “O Quinze” de Rachel de Queiroz retrata a seca do Nordeste de 1915. Entre tantos outros autores de nossa Literatura que se preocuparam em retratar a natureza brasileira.
   Uma coisa não se pode negar: seja se tratando de aspectos negativos ou aspectos positivos da nossa natureza, todos os poetas conseguiram retratar de forma brilhante o ecossistema brasileiro. Dando origem a uma literatura convidativa e que nos surpreende a cada nova releitura, modificando muitas das vezes as nossas idealizações, nossos pensamentos, nosso olhar ante ao ecossistema brasileiro. Fazendo-nos tomar uma posição diante dos fatores que deflagram a nossa natureza. E é essa a intenção da literatura, convidar-nos a tomarmos conhecimento sobre os mais diversos assuntos.   
                                                                                                                                          Camila Maia






Literatura Brasileira

Foi tida através da Literatura Informativa de Pero Vaz de Caminha e  teve seu ápice com a Semana de Arte Moderna, que proporcionou o rompimento definitivo, principalmente, com a Literatura Portuguesa, abrindo espaço para o Modernismo que foi o movimento literário que se caracterizou pela independência da literatura nacional.