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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

De Corpo Inteiro

Sinopse - De Corpo Inteiro - Clarice Lispector

“O que é amor? Qual é a coisa mais importante do mundo? Qual é a coisa mais importante para um indivíduo?”
Essas questões, em si perturbadores e exigentes, são o coração desse livro. Só Clarice Lispector, improvisada em repórter, as ousaria formular como se fossem mais simples e evidentes, as inescapáveis questões a que devem responder os que compões o panteon da inteligência e da sensibilidade brasileira. Perdidas entre tantas outras que reconstroem o percurso existencial e profissional de gente como Chico Buarque, Tom Jobim e Nélida Piñon, elas ferem fundo e desconcertam os entrevistados, fazendo-os deslizar para um universo que, mais do que qualquer outro, pertence a Clarice.

A busca da essência de cada um de nós, para além do brilho do sucesso, pede da entrevistadora a generosidade de expor-se em cada entrevista, perguntando-se tanto quanto pergunta, correndo os mesmos riscos. “Por que você escreve?” “Eu me pergunto por que escrevo?” “Você tem medo?” “Eu tenho medo.” É nesse vaivém de ocultações e desvendamentos que Clarice Lispector oferece ao leitor desse livro um panorama íntimo do que foi a sua geração, seus tormentos, suas glórias e fracassos, sua criatividade transbordante, tudo registrado em música de câmera, em diálogo pausado, impiedoso às vezes e honesto sempre.

Como prêmio nos é dado ainda surpreender Clarice por um ângulo pouco conhecido, o da jornalista, estranha jornalista, terna, perplexa, fascinada pelos mundos que vai abrindo a golpes de despudor, como pode ser perguntar ao ministro do planejamento se ele reza.

Clarice, disso sabem seus leitores, surpreende sempre, sobretudo porque nos confronta a nossos próprios mistérios, abre caixas secretas que carregávamos sem saber. Refaz, assim, mutilações insuspeitadas e nos devolve a nós mesmos, De corpo inteiro.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Clarice Lispector

       Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores(...)
                                                                                                     Pedro Karp Vasquez



“Sou tão misteriosa que não me entendo.”
                                           Clarice Lispector