Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus
escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente
íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez
que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que
publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos
em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um
auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice
por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim,
com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que
a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma,
continuará sendo um mistério para seus admiradores(...)
Pedro Karp Vasquez
“Sou tão misteriosa que não me entendo.”
Clarice Lispector
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